Abstract:
Objetivo: analisar como a proposta de transformação social da educação pública no
estado de Minas Gerais tem incorporado os princípios e discursos do Environmental,
Social, and Governance (ESG). Especificamente, investigou-se o impacto da lógica
gerencialista e econômica nos processos educacionais, identificando fatores críticos
dessa relação e observando como a educação pública tem transformado realidades
sociais.
Teorias: a pesquisa baseia-se em diversas teorias, incluindo o gerencialismo e a Nova
Gestão Pública, que são abordagens neoliberais aplicadas à gestão educacional. As
políticas de ESG, historicamente aplicadas no setor privado, foram analisadas em
termos de sua adaptação e aplicabilidade ao contexto da educação pública. Além
disso, conceitos sociológicos de educação, como as teorias de Pierre Bourdieu sobre
a reprodução social, forneceram um embasamento crítico para a análise das
desigualdades perpetuadas no sistema educacional.
Método: trata-se de uma pesquisa descritiva e exploratória e de abordagem
qualitativa, utilizando-se o método da etnografia associada a uma inspiração
autoetnográfica. A unidade de observação foi uma escola estadual localizada em Belo
Horizonte. Os sujeitos de pesquisa foram 26 pessoas entre docentes, discentes,
gestores e pais ou responsáveis e a coleta de dados foi realizada por meio de
entrevistas e observação participante. Os dados foram submetidos à análise crítica do
discurso.
Resultados: a pesquisa revelou que a implementação de práticas gerenciais,
inspiradas pela lógica do ESG, trouxe uma pressão significativa sobre as escolas
públicas, promovendo uma visão empresarial da educação. Embora alguns
indicadores de eficiência tenham melhorado, como as taxas de aprovação, os
entrevistados apontaram que essa abordagem não atende às necessidades das
comunidades mais vulneráveis. A imposição de uma suposta neutralidade na
educação foi desafiada, com destaque para o impacto negativo sobre debates críticos,
como diversidade e justiça social. Além disso, a precarização do trabalho docente foi
amplamente relatada, assim como a tendência de privatização das escolas públicas
em Minas Gerais.
Contribuições teórico-metodológicas: esta pesquisa contribui ao integrar o ESG,
tradicionalmente aplicado ao setor privado, ao debate sobre gestão educacional no
Brasil, oferecendo novas perspectivas para estudos sobre o impacto do gerencialismo
na educação pública. Metodologicamente, a combinação de etnografia e
autoetnografia trouxe um olhar inovador, ao permitir que o pesquisador refletisse
criticamente sobre seu próprio papel no ambiente de estudo, o que enriqueceu a
compreensão do fenômeno.
Contribuições pragmáticas e organizacionais: a pesquisa identificou que, para
melhorar a gestão escolar e realmente promover uma educação de qualidade, as
práticas de ESG precisam ser adaptadas às realidades específicas do contexto
educacional público, e não meramente aplicadas de forma padronizada. A
descentralização e a maior autonomia das escolas, com foco em governança ética e
responsabilidade social, são propostas como alternativas para melhorar a eficiência e
inclusão nas escolas.
Contribuições sociais: as implicações sociais desta pesquisa reforçam a importância
da educação pública como um instrumento essencial para a transformação social,
particularmente em comunidades vulneráveis. Ao evidenciar as limitações das
políticas gerenciais neoliberais, a pesquisa promove uma reflexão sobre a
necessidade de uma educação mais inclusiva e crítica, que contribua de forma
significativa para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa.